MEU BAIRRO É O MAIOR
Para entender
melhor a história da minha Rua Aroldo de Sá, nada mais justo que conhecer a
história do meu bairro Uruguai. Então, as buscas foram feitas, sem muita
pretensão, mas com certa expectativa de finalmente saber a origem do seu nome,
quais os acontecimentos da época de seu surgimento, como tudo começou, como
tornou-se possível este bairro, enfim, onde estou pisando, de que foi feito o
meu chão.
A
data de surgimento do bairro Uruguai, não é precisa, data-se do final da década
de 40, quando muitos acontecimentos faziam história em nosso país e no mundo. A
começar pelo seu nome que é uma homenagem ao campeão mundial de futebol na copa
de 50, o país Uruguai, que venceu nossa querida seleção canarinho em nossa casa
por 2x1. O contraditório da homenagem é justamente nomear nosso bairro de lutas
e batalhas dando-lhe o nome do país que nos derrotou, mas, conhecendo bem meu
povo, não me admira, o resultado talvez tivesse sido tão surpreendente que
originou nosso nome.
O
bairro Uruguai, situado na conhecida cidade baixa, em Salvador–Ba, é resultado
de uma luta travada pela população humilde que aos poucos chegava no local para
garantir seus trabalhos, contra a Marinha, pela apropriação de terra para
habitação. O local era um vasto manguezal, era maré, uma reserva de peixes,
mariscos e crustáceos, tendo casas de palafitas. Ficava em uma das partes da
Enseada dos Tainheiros, que se estende pela cidade baixa, formando assim os
Alagados, que aos poucos foi sendo aterrado com
lixo vindo de diversas partes da cidade. Porém, essa prática era proibida, por
isso os caminhões chegavam ao local à noite. Quando amanhecia o dia, a Marinha
retirava as palafitas, e no dia seguinte elas eram novamente construídas. Para
Milton Santos, a península itapagipana tem terreno “fabricado”, justamente pelo
seu calçamento feito dos lixos, uma espécie de depósito.
Palafitas do Uruguai
Tendo então esse primeiro momento de
luta para fincar um espaço de moradia, surge o bairro Uruguai. Na verdade, seu
povo, mistura de índios com negros e os brancos, migraram para este local por
causa da demanda industrial que crescia na região da cidade baixa, era possível
que nos seus arredores houvesse aldeamento indígena que se alojava na enseada
marisqueira, afinal, os indígenas foram se aglomerando nos terrenos que
encontravam para fazerem suas moradas. Muitos construtores de barcos também
faziam parte deste cenário e bem como pescadores, marisqueiros, catadores de
caranguejos dos mangues, sendo muitos tidos como mercado informal.
A indústria era forte na região da
cidade baixas e famílias como de Costa e Silva, Vita, Tarquínio e Gonçalves dos
Anjos, compunham nosso cenário industrial. Este último, fundou a associação dos
moradores local. A
Península Itapagipana foi assim ocupada por Fábricas e Indústrias tendo como a
primeira a Fábrica de Luiz Tarquínio, A Companhia Empório Industrial do Norte e
a Fábrica da Penha, no final do século XIX. Mais tarde surgem as empresas de processamento
de produtos agrícolas como a Souza Cruz, de tabaco, a Johanes Industrial, a Daw
Química, a Barreto de Araújo e a Chadler de processamento de cacau e uma das
campeãs de reclamações feitas pelos moradores por causa da poluição do ar. Além
dessas, tivemos as fábricas de produção de sabão, a Amaral Comércio de Papéis,
a Fratelli Vita, de vidros e refrigerantes, Fábrica São João, Fábrica
Paraguaçu, Fábrica da Fias, Bhering, Toster e Crush. Ao todo foram cerca de 30
fábricas.
Fachada da Fábrica Fratelli Vita
Marca do Produto
Neste local funcionava a Fábrica de Sabão
Outro fato
de grande importância que acontece nos arredores do bairro Uruguai e a
suburbana é a Feira do Rolo, também conhecida como fira do “pau”, que acontece sempre nas manhãs de domingo, na Baixa do
Fiscal, embaixo do Viaduto dos Motoristas. Há uma mistura de povos que fazem a
feira acontecer, pois seu público e seus comerciantes informais, têm pessoas de
boa procedência, pais de famílias, desempregados que aproveitam o espaço para
ganhar uns “trocados”, bem como tem os considerados mal elementos, que passam
roubos no local. Não foi encontrada uma data definida do seu surgimento, mais
alguns moradores da região, acreditam que surge talvez antes mesmo do bairro
Uruguai, fato este que não tem afirmativa, não há precisão de sua veracidade.
Feira do Rolo
Na feira do rolo é possível
encontrar os mais diversos produtos e mercadorias. São vendidos ou trocados,
aparelhos eletrônicos, utensílios domésticos, ferramentas de trabalhos
variados, roupas, moveis, alimentos e bebidas, enfim, muitas mercadorias, até
animais são encontrados nas vendas e trocas da popular feira do “pau”. Tendo ou
não um público de caráter duvidoso, fato comprovado, a feira continua existir e
faz parte da realidade do povo da cidade baixa, atraindo ainda, pessoas de
outras localidades da cidade de salvador.
Outro fato importante é relacionado ao comércio no Uruguai, é a construção do Shopping Bahia Outlet Center, que surgiu no ano de 1997. Ao contrário da Feira do Rolo, este, tem lojas cadastradas (como todo shopping), não é um comércio informal, cresceu muito a popularização do bairro, sendo frequentado tanto pelos moradores, como por pessoas de outras localidades da cidade. Lembro-me que no início, no seu surgimento, alguns de nós moradores do Uruguai, não acreditávamos que seria possível o sucesso do empreendimento, mas, na verdade o shopping permanece a 16 anos como um dos melhores patrimônios comercial do nosso bairro.
Outro fato importante é relacionado ao comércio no Uruguai, é a construção do Shopping Bahia Outlet Center, que surgiu no ano de 1997. Ao contrário da Feira do Rolo, este, tem lojas cadastradas (como todo shopping), não é um comércio informal, cresceu muito a popularização do bairro, sendo frequentado tanto pelos moradores, como por pessoas de outras localidades da cidade. Lembro-me que no início, no seu surgimento, alguns de nós moradores do Uruguai, não acreditávamos que seria possível o sucesso do empreendimento, mas, na verdade o shopping permanece a 16 anos como um dos melhores patrimônios comercial do nosso bairro.
De fato a
cidade baixa era fonte de indústrias que resultaram no povoamento, ou melhor,
surgimento do bairro Uruguai. Bairro este que chegou a concorrer nos concursos
culturais e festeiros intitulado de “Meu bairro é o maior”, isso nada mais era
que a tentativa dos seus moradores de homenagear, mais que isto, reverenciar o
bairro que nasce dos aterros e abrigam-lhes, dando oportunidade de cidadania e
condições de moradias, mesmo que precariamente. Enfim, um bairro com identidade
misturada, mas própria.
MEU ENDEREÇO – MINHA IDENTIDADE
O
mundo é realmente vasto, e pensar que nessa imensidão de chão e céus eu me
encontro num lugar no qual posso me sentir literalmente em casa, sim, no meu
território, meu local, meu pedacinho de mundo diante de tamanha imensidão. É assim
que me sinto na Rua Haroldo de Sá.
Como
já bem sabemos, a cidade baixa era polo industrial e atraia pessoas para
fazerem suas moradias nos seus arredores, como a população do bairro Uruguai.
Neste aglomerado de ruas, antigas palafitas e povos atraídos por uma
oportunidade de emprego e habitação, surge então, a Rua Haroldo de Sá
O
endereço supracitado faz parte de minha vida desde que nasci e retornei da
maternidade Sagrada Família localizada no Bonfim, rua esta, já habitada por
minha família desde os primórdios de sua construção por volta da década de 50,
talvez final da deã. 40, não há precisão de data. Rua que vivi até os meus 13
anos de idade, até maio de 1993, sem nunca ter me afastado ou ausentado
totalmente, pois sempre estava em casa de parentes, e que finalmente retornei
em dezembro de 2005 e permaneço sem previsão de partida.
Nesta rua conheci as lutas do nosso povo que
já vinha sendo travada desde o surgimento do bairro Uruguai, quando estava em
processo de aterragem. Uma luta que permanece nos dias de hoje sem perspectivas
de melhoras, pois, a precariedade no asfaltamento, na rede de esgotos, e na
coleta de lixo é gritante e fica cada vez mais berrante nos tempos de chuva. Há
quem diga que a culpa é da má construção, foi feita abaixo do nível do mar, mas
seja lá o que for, nos mantemos firmes, buscando soluções, e alguns, tentando
fazer sua contribuição por melhora de moradia.
Foi
nesta rua que conheci a solidariedade humana, é nestes momentos de chuva e
conseqüente alagamento, que os moradores se unem em socorros dos vizinhos prejudicados,
mais que isto, neste local tive certeza da inocência e leveza das crianças que
aproveitam as inundações para brincarem de fazer barquinhos e sorriem como se
não estivesse nada de ruim acontecendo. De fato para nossas crianças o mundo
muitas vezes é um lindo e divertido faz de contas, e tudo que elas querem é
brincar e rir de tudo.
Mas
nem tudo é só luta e sofrimentos, pois, tivemos muitas comemorações na Rua Haroldo
de Sá. Sim, foram muitas gincanas, festas das mães e pais, muitos natais e o São
João que continua sendo com tradicional quadrilha e forró, aliás, uma gigante
quadrilha formada por moradores. Ainda me lembro de também de reunir a turma
pra brincar das mais diversas brincadeiras, pega-pega, amarelinha, baleado,
sete pedrinha, pique esconde, eram tantas, e hoje vejo as atuais crianças dando
continuidades a todas elas e inventando novas travessuras.
Na
verdade, conheci outras moradas, em outros endereços, mas, é na Rua Haroldo de
Sá que me sinto a vontade, de certa forma acolhida, amparada, enfim, me sinto em casa. Por isso mesmo,
despertou-me o desejo de conhecer a história da nossa gente, nosso bairro,
nossa cidade, e tudo que implicou sua construção, seu surgimento, que apesar de
não ter uma data precisa (não tive esse acesso), tem todo um contexto a ser
conhecido e assim analisado.
Enfim,
adentro até onde posso, até onde tive acesso, na minha morada, na minha casa,
no pedacinho de mundo situado na Bahia, em Salvador, no Uruguai, no CEP 40450410,
“minha” rua de todos nós, que sofreu modificações em sua arquitetura, mas, se
mantém a mesma desde sempre.
- No período de sua construção, a Rua Haroldo de Sá dispunha de um chafariz com 10 torneiras que abastecia seus moradores e também a vizinhança;
- As casas do bairro Uruguai e da rua Haroldo de Sá eram feitas de madeira, com chão feito de areia batida e alguns moradores enfeitavam-na com folhas de pitanga;
- Na década de 70 os moradores do bairro Uruguai se divertiam na Discoteca Prato Quente;
- Era possível comprar pão na porta de casa, pois, tinha um homem que passava de bicicleta ou carroça vendendo (ambulante);
- O bairro Uruguai já venceu uma gincana televisiva, no programa Meu Bairro é o maior, apresentado por Tia Arilma;
- Os moradores do Uruguai organizavam o carnaval do bairro;
- Nas proximidades do bairro Uruguai, na Rua Barão de Cotegipe, existiu uma empresa de ônibus elétrico.
SALVADOR – PRIMEIRA CAPITAL DO BRASIL
Para conhecer a história do meu bairro, da minha rua, eu não compreenderia se não conhecesse seu contexto. Por isso, conhecer primeiro a história da Cidade do Salvador foi de grande importância, pois há uma relação do que resulta na construção do meu lugar.
A
cidade de Salvador nasce em 1549 (fato já supracitado) na Colina da Sé, sendo
idealizada (a primeira cidade das Américas criada com proposito consciente)
para abrigar os portugueses vindos desde o descobrimento, e servir como “base”
de suas tropas, na tentativa de evitar os invasores. Feita sob o desenho de
Luís Dias, em Portugal, ainda hoje podemos visualizar sua aparência mais
antiga, mantida no centro histórico.
Desde
o surgimento da cidade do Salvador, teve início o tráfico negreiro, no qual os
negros africanos eram trazidos para servirem de escravos, colocando suas forças
braçais para a construção e manutenção da nova cidade. Por causa da vinda do
povo da África, sendo misturados aos índios e aos europeus, nossa gente nasce
dessa miscigenação que nos torna o que alguns preferem chamar de multirraciais.
Dependendo da localidade dos seus bairros essa mistura pode ser mais acentuada
ou não.
No
seu início, Salvador era tomada por matas atlânticas que logo foram exploradas,
para que estradas fossem construídas e para que sua madeira fosse aproveitada e
exportada para riqueza dos colonos, que também se valiam principalmente da
cana-de-açúcar, nosso maior bem. Tanto que, em 1576 já contavam 18 engenhos do
produto no recôncavo. A nossa fauna também despertava a cobiça da Europa,
movimentando assim os portos, com as grandes frotas de navios mercantes.
Durante
três séculos, a cidade de Salvador foi a mais importante e mais populosa
aglomeração urbana do Brasil, pois sua demanda comercial e até industrial,
atraia cada vez mais a população brasileira. Sua paisagem é rica de contrastes,
devido à sua multiplicidade de estilos, de idade de casas, e a já citada
mistura de raças; gentes de todas as cores se misturam nas ruas, além de sua
divisão territorial: cidade baixa e cidade alta, na qual divide-se também a
classe social. Temos uma cidade de praias, de palafitas, de invasões, que
consequentemente resulta na construção de vários bairros com características
sociais bem peculiares à suas demandas.
Com o passar
dos séculos, Salvador continuou crescendo como centro de comércios primeiramente, indústrias
e cultura, era a princípio um polo comercial. Nossas fontes continuaram sendo
cana-de- açúcar, madeiras, faunas exóticas e também a parte marítima ganhou
força. Com o passar dos anos, alguns bairros da nossa capital serviram com
maior veemência para a industrialização e devido a sua demanda, povos foram
migrando para esses bairros e construindo novas moradias. Assim nasce as
moradias precárias que somente atendia o capitalismo, mas, não ofereciam
condições de habitação adequadas, e isso continua sendo fato nos dias atuais.
Salvador passa então a ser um polo industrial.
Devido
então, a grande demanda industrial, que se concentrava boa parte na Península
Itapagipana, cidade baixa de Salvador, houve a necessidade de expandir moradias
e a região conhecida como alagados transformaram-se bairros novos, o que para
os ambientalistas, ajudou a devastar o meio ambiente e crescer o numero de
moradias precárias. A verdade é que muitos trabalhadores invadiram este espaço
para poder garantir seus empregos, o que facilitava também para os empresários.
Fica
assim entendido que nossa Cidade Salvador nasce com propósitos bem delineados
de expansão de terras para os colonizadores, abrigo e até mesmo campo de
batalha, e aos poucos foi servindo também para o comércio, a industrialização,
as grandes exportações e tendo com isso um crescimento de moradias e trabalho.
* As informações aqui postadas são resultado de pesquisas (referência abaixo) e entrevista com moradores locais.
REFERÊNCIAS
Revista da Bahia, V. 33, nº 18,
setembro/novembro de 1990. Empresa Gráfica da Bahia, 1990 Trimestral.
em 11 de maio de 2013 as 9:10 hs.
http://www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/vivendo-polo.php?cod_area=3&cod_polo=103,
em 11 de maio de 2013 as 9:33 hs.
http://renilzabarbosa.blogspot.com.br/2009/05/historia-da-peninsula-itapagipana-e-do.html,
em 11 de maio de 2013, as 9:42 hs.
http://blog.dinamovigilancia.com.br/salvador/aniversario-de-salvador-parabens-pelos-464-anos,
em 11 de maio de 2013, as 10:03 hs.
http://marcosnogueira-2.blogspot.com.br/2010/12/belezas-da-cidade-baixa-da-bahia.html,
em 11 de maio de 2013, as 10: 17 hs.
Muito bom Jana, bastante rico!
ResponderExcluirJana parabéns, muito bem escrito seu blog, a feira do rolo realmente é conhecida pelos maus elementos que passam pra frete seus roubos, mas fiquei feliz em saber que tem um comercio com pessoas de bem nesse local.
ResponderExcluirParabéns, gostei de conhecer o Uruguai, principalmente a respeito da feira do rolo.
ResponderExcluirbjus
Falar do SEU bairro, tem haver com identidade, revela um pouco de quem somos, as influencias que recebemos. Obrigada por partilhar conosco um pouco da sua história, nos apresentando a riqueza cultural que Uruguai / Rua Haroldo de Sá possui. Parabéns!
ResponderExcluirQue bom ver notícias boas do meu bairro (posso considerar meu, nasci no Jardim Cruzeiro, perto da Feirinha), morei nas palafitas, e por incrível que possa parecer, guardo boas recordações daquela época.
ResponderExcluirIldevan
Sim, nosso bairro tem notícias boas e moradores bons, tenho um carinho especial por esse lugar que nasci e continuo habitando!
ExcluirParabéns Janaína. Muito esclarecedor seu texto. Todos deveríamos saber mais sobre o local onde moramos, para compreender todas as questões históricas, políticas e sociais e ser um agente de mudanças positivas nos nossos bairros. Um abraço. :)
ResponderExcluirObrigada Geise!Temos que conhecer a história, valorizar e fazer nossa parte pra melhorar o que não está bom. Infelizmente muitos acontecimentos ruins têm abafado a grandeza do nosso bairro, mas cabe a nós fazermos o melhor possível pela sua preservação. abraços!
ExcluirSou da Massaranduba, minha família por parte de mãe é toda da Ribeira.
ResponderExcluirExcelente blog e fiquei feliz em saber de maneira mais detalhada sobre o bairro do Uruguai.
Obrigada por compartilhar, também sou apaixonada por nossa cidade.
Um abraço!
Gostaria de foto da rua sinagoga no uruguai, mas so encontro a avenida principal.
ResponderExcluirvc pode bota tbm oendereso?
ResponderExcluirpor favo pra quem quiser compra ja sabe omde compra!